sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Depende do Ponto de Vista

Se existe alguma coisa que ainda me convence a ficar mais um pouco em Florianópolis é a possibilidade de enxergar cartões postais pela janela de casa, do ônibus, do trabalho, ou melhor, de um restaurante. Juro que eu não vou fazer mais trocadilhos infames com o Ponto de Vista, como o do título. Apesar de ser de noite, nada tira o charme da Lagoa da Conceição, principalmente quando se está bem acompanhado e com uma música excelente de fundo.

A música é o gancho pro primeiro conselho da noite: se esse post fizer você ficar com vontade de conferir o Ponto de Vista, faça isso em uma quarta-feira, dia em que a Rosa Martha canta e o Marcos Parucker toca no teclado lindas músicas francesas. Vale muito a pena. Tanto que eu desconfio que o movimento da noite, em grande parte (sem desmerecer o restante), era por conta dos dois, que arrancavam aplausos das mesas.

Quem é de Floripa já deve ter passado alguma vez nesse mirante, que fica logo depois da Galheta, em direção à Barra, à esquerda. Além do restaurante, funcionam ali também umas lojinhas de artesanato e roupas durante o dia. Mas o objetivo era mesmo comer, então deixamos o carro no amplo estacionamento que tem ali, sob a vigília de um funcionário e rumamos pro restaurante. Apesar da chuva, estava cheio, como eu disse antes, mas não a ponto de incomodar. Pegamos uma mesa na janela, com um bom ponto de vista (ok,não resisti...), ao som da linda voz da Rosa Martha. A luz muito baixa me incomoda um pouco, mas o Geison gostou, então talvez seja rabugentice minha.


Salão interno

Eu, como sempre, já tinha dado uma consultada no site e estava a par do cardápio e também dos preços, que eles disponibilizam (!). Pra iniciar os trabalhos, pedi um coquetel Vista da Lagoa (R$ 8), que levava Martini Bianco, Cointreau, pêssego e laranja e o Geison foi de Chopp Weisenbier da Eisenbahn (R$ 4,80 / 300ml). O coquetel era saboroso, começando com o gostinho da laranja e o pêssego se pronunciando só no finzinho, mas pra mim estava muito doce e eu acabei enjoando antes da metade.

Pra entrada, resolvemos pedir bolinhos de salmão com gengibre (essa opção não tem no cardápio online), que saiu R$ 12 por seis unidades. A expectativa foi maior que o sabor. Pra fazer a massa do bolinho frito o salmão teve que ser processado (não sei se é exatemente esse o termo) e o sabor se perdeu no meio. O gengibre então, só vi sinal na última mordida. É claro que ele não podia roubar a cena, mas você espera sentir um gostinho de gengibre num bolinho de salmão com...gengibre.


Coquetel Vista da Lagoa e bolinho de salmão com gengibre (pelo menos teoricamente)

A fome não era muita depois dos bolinhos, então chamamos o garçom (atendimento regular, não se pode reclamar nem elogiar) para pedir pra dividir uma porção individual de Congro Rosa com Camarão e Champignon (R$ 49,50). O filé era recheado com molho de manteiga, champingnon, camarão e vinho Chardonnay, e acompanhavam arroz e batata sautée. O molho estava excelente, com os camarões puxados na manteiga, no ponto certo, nem emborrachados, nem crus, acompanhados de uma das melhores invenções do Reino Fungi: o champignon.


Congro Rosa (escondido) com Camarão e Champignon

Achei que o peixe ficou um pouco apagado no meio de tantos sabores, mas quero acreditar que foi intencional. O meu critério aqui é parecido com o que pensa o chef Mario Batali, do italiano Babbo, de NY: se o prato principal é a massa (no caso, o congro), não deixe que ela perca espaço pro molho, afinal ela é a grande estrela. Li isso no excelente livro “Calor”, do jornalista e crítico Bill Buford, uma leitura gostosíssima sobre a incursão dele no universo da comida italiana, que eu recomendo muito.

Deixando o devaneio italiano pra lá, mas ali do ladinho da França, pelo menos no repertório musical, nos despedimos do Ponto de Vista, satisfeitos com a apresentação, mas achando o preço um pouco mais salgado que o congro.

*a foto do salão foi kibada do site e as dos pratos feitas pelo Geison Werner

Preço: $$$$
Atendimento: ☺☺☺
Ruído/Música: ♫♫♫♫♫
Momosidade (casal): ♥♥♥♥♥
Aceita cartão de crédito / débito


Exibir mapa ampliado

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Conversa de botequim e feijoada no Canto do Noel

Já ouvi muita gente falar que o Canto do Noel é um pedacinho do Rio perdido em Florianópolis. Nunca fui ao Rio, mas se for verdade, quero morar lá quando eu crescer. A Travessa Ratcliff desperta em mim, uma dessas relações de amor incondicional que você acaba tendo por alguns lugares. Talvez isso influencie muito do meu post sobre a feijoada de lá, mas se servir pra fazer alguém ficar curioso e ir conhecer, já valeu a pena. Espero que vocês concordem comigo.

O Canto do Noel (uma homenagem ao sambista, não ao bom velhinho) é um dos três botecos da Travessa, cenário de muita coisa boa que já rolou por aqui. Luiz Henrique Rosa, Liza Minelli e Zininho eram alguns dos ilustres freqüentadores do antigo Petit, e quem vai lá pode conferir as figuras nos retratos pendurados pela parede. Como a ideia aqui não é falar da história do lugar, sugiro que vocês leiam o post do João Carlos, “presidente” da Travessa.

Já fazia algum tempo que o Vitor tinha me falado da tal feijoada, mas como a correria é grande e o tempo é curto, fomos adiando a nossa incursão diurna ao Noel. O dia é longo na Travessa. O Noel abre às 8h e só fecha às 23h, de segunda à sexta e no sábado abre no mesmo horário e fecha às 16h. Minhas idas normalmente são à noite, pra tomar uma cervejinha e comer uma isca de peixe, acompanhadas de um bom papo. A cerveja e o bom papo eu não dispensei, mas o prato e o horário mudaram.


Depois de passada uma semana inteira sem ver um raio de sol, fazia uma sexta-feira linda e o Vitor já me esperava em uma das mesas que ficam no calçadão, do lado de fora. Animados pelo sol e levando em conta que Travessa não é Travessa sem cerveja, pedimos pro seu Hamilton trazer uma Antarctica gelada (R$ 3,75) e já agilizar uma feijoada pra dois (R$ 14). No Noel sempre tem alguma música boa rolando. Juro que eu não lembro qual era a desse dia, mas na segunda seguinte, quando fui com o Daniel, outro freqüentador assíduo, numa das idas noturnas, rolava um João Gilberto, figura mais assídua ainda por lá.





Como à noite as pessoas mais bebem do que comem, não tinha idéia do tanto de gente que almoça por lá. O cardápio tem desde chuleta, até peixe, dobradinha ou feijoada. A nossa não demorou nada pra chegar, mas antes, o seu Hamilton trouxe um pratinho de salada pra abrir o apetite: tomate, repolho e cenoura. Logo em seguida, a feijoada, acompanhada de arroz e farofa (do tipo Yoki, uma das melhores invenções da cozinha prática, na minha opinião, ao lado do miojo e do atum em lata). Alerto aqui mais uma vez pra questão do custo / benefício. Devo reconhecer que não foi a melhor feijoada da vida, mas talvez seja a melhor que eu posso comer a 7 mangos em Floripa. Bem temperada, sal correto, linguicinha saborosa, mas sem aquele corpo que a feijoada tem que ter. Os outros tipos de carne não comi, confesso que eu tenho uma certa resistência, e me coloco no grupo dos que aprova a feijoada com os vários tipos de carne separadas. Sobre isso, aliás, vale a leitura da seção “Gosto de discute”, da edição nº 1 da Revista Gosto, fundada pelo povo que debandou da Gula. A seção mostra duas opiniões antagônicas sobre determinado tema, e essa é sobre a feijoada: “Em defesa da feijoada original”, por Jacques Trefois e “A favor do apartheid culinário”, por Braulio Pasmanik.

Pra acompanhar a conversa de botequim, outra Antarctica e a sobremesa: gelatina no copinho descartável. Simples e bom, como a Travessa.

Preço: $
Atendimento: ☺☺☺☺☺
Música: ♫♫♫♫♫
Momosidade: ♥
Não aceita cartão de crédito / débito


http://maps.google.com.br/maps/ms?hl=pt-BR&ie=UTF8&msa=0&ll=-27.595897,-48.548284&spn=0.007378,0.013626&z=16&msid=106520131690139737918.000475b56ff18700cccf0&iwloc=000475b574299298fbf6b